terça-feira, 13 de outubro de 2009

A inovação na indústria de energia

Fonte: ARENA TECNOLÓGICA - Ivo Dantas

Por Eduardo A. Paiva de Almeida
(Economista, professor da UFPE e Coordenador do SoftexRecife)

A revista inglesa The Economist, na sua edição de 6 – 12 de junho de 2009, traz um estudo especial sobre novos avanços tecnológicos. Dentre as novas tecnologias ali tratadas, chama a atenção uma que está sendo gerada dentro da indústria da eletricidade. Na matéria divulgada, informa que a grande inovação na indústria da eletricidade [que existe há mais de 120 anos] será a implantação daquilo que está sendo conhecida smart grid ou, em Português, rede de distribuição inteligente.
Trata-se, sem dúvida, de uma inovação capaz de revolucionar todo um setor que se imaginava não fosse capaz de inovar. Segundo a revista o smart grid está para a indústria de eletricidade como a internet está para os computadores. O smart grid destina-se tornar a operação das linhas de transmissão e distribuição de energia elétrica mais transparente, mais eficiente e ecologicamente correta. O smart grid, segundo ainda a revista, está centrado na aplicação do poder do computador, juntamente com sensores remotos digitais, ao sistema de transporte e distribuição de eletricidade, fornecendo em tempo real e numa velocidade até então não imaginada, informações sobre a situação das linhas.
Um dos instrumentos inovadores do smart grid é o medidor inteligente. Trata-se de um medidor que vai muito mais além da simples mensuração do consumo, como os atualmente em uso pelas companhias de eletricidade. O medidor inteligente [smart meter] permite a troca de informação em tempo real e de forma bidirecional entre o produtor [empresa de eletricidade] e o usuário final. Isso torna os atuais medidores de consumo em instrumentos da idade da pedra.
Com o uso do smart meter, o consumidor poderá saber, a qualquer instante, o preço da energia fornecida, o quanto já consumiu de kW e em termos financeiros, e também a origem da energia que está sendo consumindo, se hidroelétrica, de fontes alternativas, nuclear etc. Com essas informações será também possível ao consumidor estabelecer a melhor hora para ligar os seus eletrodomésticos de modo a otimizar a sua a renda, poupando energia e contribuindo para a redução do aquecimento global. Do lado das empresas de eletricidade, o uso do smart meter tornaria desnecessário, dentre tantas outras coisas por exemplo, a equipe encarregada de medir localmente o consumo para embasar cobrança. Isso seria feito em tempo real e o consumidor receberia sua conta por e-mail.
Do lado do administrador do grid os ganhos são incomensuráveis. Segundo a matéria publicada na The Economist, os sistemas hoje em uso fornecem ao gerenciador da rede informações sobre o estado de transmissão nas linhas a cada 4 segundos. Com essa inovação, ele fornecerá ao gerenciador essas informações 30 vezes por segundo permitindo assim um gerenciamento muito mais acurado e seguro, prevenindo quedas [black out]de energia com danosas conseqüências sobre a produção. Essa otimização permite ademais balancear oferta e demanda e distribuir de forma “ótima” ao longo do tempo a construção de novas usinas geradoras.
É evidente que o smart grid tem um custo. E esse custo não é baixo. O medidor inteligente custa algo como US$ 125 (a unidade) e centenas de dólares a mais para fazê-lo funcionar. Estima-se que fornecer smart meter para a totalidade dos consumidores americanos custaria algo como US 50 bilhões. Esse custo parece compensar, pois se estima que o uso do smart meter seria capaz de reduzir a demanda por energia nos EUA entre 5%, que representa uma conta de US$ 66 bilhões em 20 anos, e 25% que, em se atingindo redundaria numa economia de US$ 325 bilhões nesse mesmo tempo. Segundo um especialista consultado pela revista “é caro usar essa tecnologia, mas não usá-la é ainda mais caro”. No pacote de estímulo à economia americana implementado pelo Governo Obama foram destinados US$ 4 bilhões a serem aplicados em smart grid.
Na matéria citada há uma importante informação que, no entanto, não está explicitamente posta. Trata-se das oportunidades de negócios que serão abertas por essa inovação. O maior custo do smart grid se concentra na área de software que precisa ser desenvolvido, posto que ele [o smart grid] depende criticamente da eficiência na troca de informações entre as partes componentes do sistema. Adicionalmente há todo um espaço para empresas desenvolverem aplicações web daí derivadas. E face ao volume da demanda do projeto, com certeza uma parte dessa demanda por desenvolvimento deverá ser “comprada” fora dos EUA e isso abre perspectivas às nossas empresas de TI. É bom ficar de olho e acompanhar.

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